domingo, 2 de agosto de 2009

Saudade


Saudade de mãe
Coloquei o filtro da arte naquela cena comum, e a luz - queaté então estava escondida -, veio surpreender-me com seupoder de claridade.A mulher simples, mãos calejadas de lida rotineira, mulher que aprendeu a curar as dores do mundo a partir de meus joelhos esfolados de quedas e estrepolias.Aquela mulher, minha mãe, rosto iluminado pela labareda que tinha origem no fogão de lenha. Trazia consigo o dom de medevolver a calma, que a vida tantas vezes insistiu em me roubar.Aquela cena: mulher, fogão de lenha, panela preta escondendo a brancura de um arroz feito na hora. É uma das cenas mais preciosas que meu coração não soube esquecer.Saudade de mãe é coisa sem jeito, chega quando menosimaginamos: um cheiro, uma melodia, uma palavra... umaimagem, e eis que o cordão do tempo, nos convida ao retorno da infância.Como se um fio nos costurasse de novo ao colo da mulher que primeiro nos segurou na vida e agora nos pudesse regenerar.Saudade de mãe é ponte que nos favorece um retorno a nós mesmos; travessia que borda uma identidade muitas vezes esquecida,perdida na pressa que nos leva.Saudade de mãe é devolução, é ato que restitui o que se parte; é luz que sinaliza o local do porto, é voz no ouvido a nos acalmar nas madrugadas de desespero e solidão, através de uma frase simples: Dorme meu filho! Dorme!Hoje, nesse dia em que a vida me fez criança de novo, neste instante em que esta cena feliz tomou conta de mim,uma única palavra eu quero dizer: Oh minha mãe, que saudade eu sinto de você!

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